segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Saúde do idoso na atenção básica


No último mês, muitos periódicos publicaram informações referentes aos cuidados de saúde do idoso. Destaco um texto publicado no JAMA (FI=28,899) sobre o tratamento de idosos com múltiplas condições crônicas e necessidades complexas de cuidados de saúde. Alguém conhece algum???

Segundo os autores, este perfil de paciente normalmente recebe atendimento de saúde fragmentado, incompleto, ineficiente e inefetivo, e exemplifica com um estudo de caso de uma idosa, cujo problema de saúde não pôde ser resolvido efetivamente pela costumeira abordagem do diagnosticar e tratar a doença individualizada.

A riqueza do artigo está na intenção de demonstrar, através de um exemplo prático, os benefícios de uma abordagem interdisciplinar de cuidados ao idoso com múltiplas condições crônicas, e propõe focar este tipo de intervenção na atenção básica, estruturando os cuidados primários de saúde do idoso basicamente em quatro processos contínuos e pro-ativos, com potencial de melhorar suas condições de vida, funcionalidade e autonomia. Os processos propostos são os seguintes:

  1. Avaliação abrangente (ampliada) de todas as doenças do indivíduo, incapacidades, cognição, medicação, outros tratamentos, auto-cuidados, hábitos/estilo de vida, condições psicológicas, riscos ambientais, suporte familiar (ou amigos), e outros recursos associados com valores e preferências do paciente;
  2. Criação, implementação e monitoração de cuidados de saúde ampliados e baseado em evidências de todas as necessidades relacionadas à saúde do paciente, no contexto de suas preferências;
  3. Promoção de um engajamento ativo do paciente, familiares e cuidadores para os auto-cuidados;
  4. Coordenação entre os profissionais envolvidos (incluindo clínicos, especialistas dos hospitais e emergências, profissionais de reabilitação, da saúde mental, cuidadores domiciliares, assistentes sociais, e estratégias da comunidade como centros de convivência, programas de exercícios e grupos de apoio) no cuidado com o paciente, todos focados nas preferências e objetivos do paciente1.
São citadas evidências de efetividade e eficiência de alguns modelos de atenção ao idoso com múltiplas doenças crônicas propostos para manter um nível de funcionalidade suficiente para as atividades e participações sociais. Estes modelos têm em comum os aspectos acima, e são descritos por outro estudo do mesmo número do JAMA, e enfatizam programas de prática corporal e engajamento social2.

Prática corporal

A prática corporal ou atividade física é tida como uma estratégia importante para prevenir e reduzir conseqüências das doenças crônicas, obesidade e desuso. Mesmo intensidades baixas de exercícios (caminhada lenta para indivíduos limitados funcionalmente, p. exemplo) são úteis para melhorar estilos de vida sedentários, pois podem melhorar função, diminuir hospitalização e proteger contra doenças crônicas. Programas regulares reduzem a incidência de demência e retardam o início do declínio cognitivo associado à idade. Geralmente nunca é tarde para se tentar melhorar a função física e a qualidade de vida através de práticas corporais, mesmo quando já exista doenças crônicas ou perda funcional substancial. Movimentar-se mais e sentar menos são conselhos úteis! Incorporar caminhadas e alongamentos nas atividades de lazer; caminhar ou pedalar como meio de transporte; facilitar seu ambiente para permitir mais mobilidade durante o dia; e participar de atividades cívicas e sociais são estratégias úteis para manter a independência e autonomia do idoso2.

Os autores citam estratégias como: a prescrição, por escrito, da atividade física pelo profissional de saúde; acompanhamento por telefone, ou outra vias; e adicionar aos sistemas de referência e contra-referência os recursos de prática corporal/atividade física na comunidade, por exemplo.

Engajamento social


Fonte: Alagoas 24 horas (atalho)
O engajamento social é apontado como uma estratégia potencial para a promoção de saúde funcional. Trabalhos voluntários, como ajudar crianças no ambiente escolar, podem aumentar a força e atividade física, além de melhorar os níveis de atividade cognitiva e social. Outras atividades voluntárias e participação em movimentos cíveis e sociais também são úteis.2

Associando as informações deste material a realidade nacional, podemos verificar a necessidade de um sistema de saúde bem estruturado e organizado para dar conta de uma importante parcela da população, cada vez mais numerária. A utópica imagem do idoso como um membro venerado da sociedade que adquiriu respeito após uma vida inteira de trabalho e acúmulo de conhecimento nem sempre se confirma3. Para avançarmos, precisamos modificar o paradigma do atendimento ao idoso, desde sua avaliação (incluindo a avaliação funcional, cognitiva e das atividades de vida diária), até o atendimento ampliado, focado na recuperação da independência funcional e da autonomia social. Um acompanhamento atento e preocupado em mantê-lo ativo, garantirá a manutenção das aquisições por prazos mais longos.

Assim, fisioterapeutas, mexam-se para contribuir para este novo paradigma de assistência ao idoso, e contribuam, cada vez mais, dentro do seu escopo de trabalho, com os demais profissionais da equipe de saúde, de acordo com suas realidades.

Referências

1. Boult C, Wieland GD. Comprehensive primary care for older patients with multiple chronic conditions: "nobody rushes you through". JAMA. 2010 3 nov; 304 (17): 1936-43.

2. King AC, Guralnik JM. Maximizing the potential of an aging population. JAMA. 2010 3 nov; 304 (17): 1944-5.

3. Respect and care for the older person. Lancet. 2010 2010; 376: 1711.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

SUS elogiado internacionalmente

O último número da BMJ traz destaque interessante para o sistema de saúde brasileiro. Desde o editorial1, o Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro é colocado como um belo exemplo de sistema universal e gratuito que tem dado certo. Muitos elogios são feitos e a maior preocupação que possa comprometer o seu futuro bem sucedido poderia ser o aumento do poder de consumo da classe média, que tende a consumir mais os planos privados de saúde, que são os maiores concorrentes do SUS2.

Não é de hoje que o carro chefe do sistema de saúde nacional, voltado basicamente para o reforço da atenção primária da saúde, recebe elogios por dar conta de seus objetivos. A redução dos indicadores de saúde materno-infantil estão sendo cumpridos, alguns antecipadamente, numa meta de atingir até 2016, como mostrado no artigo (figura 1)3.

Cobertura populacional pela estratégia de saúde da família e mortalidade infantil (Dados do Ministério da Saúde Brasileiro). Fonte: BMJ
Após uma breve revisão histórica da implantação do SUS no Brasil, alguns dados são discutidos pelos autores, como a evolução da cobertura da estratégia de saúde da família desde o seu início e os bem sucedidos programas de imunização e de tratamento da HIV/AIDS. 


Foram feitas comparações entre o uso do SUS por pessoas de diferentes faixas de renda, demonstrando que a cobertura é maior em populações mais frágeis e a previsão sobre a universalidade do acesso é feita de forma bastante otimista.

São textos de acesso livre e que valem a pena dar uma olhada!

Referências:

1. Harris M, Haines A. Brazil's Family Health Programme. BMJ. 2010 29 nov; 341: c4945. Acesse aqui.
2. Hennigan T. Economic success threatens aspirations of Brazil's public health system. BMJ. 2010 29 nov; 341: c5453. Acesse aqui.
3. Guanais F. Health equity in Brazil. BMJ. 2010 29 nov; 341: c6542. Acesse aqui.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

COBRAFIN

Foi divulgada a programação definitiva do Congresso Brasileiro de Fisioterapia Neurofuncional (COBRAFIN), a ser realizado em Petrópolis, RJ, de 26 a 28 de novembro. Acesse a programação aqui para verificar o altíssimo nível do evento, baseado na divulgação dos achados mais recentes das pesquisas mundiais.

Cito abaixo, trecho divulgado pela Associação Brasileira de Fisioterapia Neurofuncional (ABRAFIN) sobre o evento, que não dispõem mais de vagas.

Parabéns a diretoria da ABRAFIN e da Comissão Organizadora pelo excelente nível do evento.
Abraços e até lá, para quem for!!
Prezados colegas,

É com muita alegria que  informamos a todos que o I COBRAFIN já é um sucesso! Recebemos mais de 260 resumos, dos quais 145 serão apresentados. Nossos anais sairão publicados na respeitável "Brazilian Journal of Physical Therapy".
Atingimos nosso limite de inscrições no Congresso. Com cerca de 300 congressistas, esgotamos a capacidade dos auditórios. Se por um lado estamos felizes com tamanho sucesso, por outro ficamos frustrados por não poder inscrever mais as pessoas que nos procuram. Estamos estudando a possibilidade de filmar as palestras, para no futuro oferecê-las aos associados via site da ABRAFIN.
Nem em nossos sonhos mais otimistas imaginaríamos que o I COBRAFIN teria tamanho sucesso! Com uma programação de altíssimo nível, o nosso Congresso veio preencher uma lacuna na Fisioterapia Neurofuncional Brasileira que ansiava por eventos dignos de sua produção científica e experiência clínica.
 
Produzido artesanalmente, o I COBRAFIN é resultado do engajamento de todos os associados que quiseram e puderam dar a sua contribuição.
Esse é o verdadeiro sentido de uma Associação Científica - uma construção coletiva!
 
A Fisioterapia Neurofuncional Brasileira será aquilo que nós fizermos dela!

A Diretoria da ABRAFIN deseja, nesse momento, dedicar o sucesso deste empreendimento a todos os seus membros, bem como àqueles que, mesmo não sendo membros, nos ajudaram a chegar até aqui!

Lembrando a todos: Se você não conseguiu se inscrever no Congresso, ainda há vagas para os cursos pré-congresso - você pode se inscrever pelo site
Saudações Neurofuncionais,
Diretoria da ABRAFIN

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Fisioterapeutas nas Olimpíadas Universitárias 2010

Parabéns ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) pela organização das Olimpíadas Universitárias 2010, que ocorrem em Blumenau, SC, de 04 até 15 de novembro.

Destaco a participação ativa da equipe de fisioterapeutas, responsáveis pela avaliação cinesiológico funcional das quipes e jogadores durante as competições, em quadra, presentes em todos os jogos, sem exceção, condição indispensável para o andamento do evento.

Boa sorte aos mais de 3000 atletas presentes em Blumenau, sucesso ao evento e bom trabalho aos 17 colegas que prestaram serviço ao COB.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Entorse de tornozelo: exercícios supervisionados têm mais vantagem


A entorse de tornozelo é uma das lesões musculoesqueléticas mais freqüentes (23 000 e 5000 casos por dia nos EUA e Reino Unido, respectivamente) e um dos principais comprometimentos funcionais estão relacionados com a perda do equilíbrio e da estabilização da articulação tíbio-társica.

O treinamento do equilíbrio e propriocepção (integração sensório-motora) podem reduzir esta limitação, melhorando os sintomas de instabilidade articular e risco de entroses de repetição, além de melhorar o controle postural. Algumas dúvidas, porém, são discutidas há muito tempo sobre os principais recursos para o tratamento deste problema, como por exemplo, se a fisioterapia realizada com exercícios poderia melhorar o desfecho do problema. Se imobilizar por um tempo e depois fazer fisioterapia é a conduta ideal? Se apenas imobilizar é suficiente, ou a imobilização é desnecessária, pois a fisioterapia isolada é suficiente?

Com a intenção de resumir a eficácia da adição de exercícios supervisionados do tratamento convencional comparado com o tratamento convencional (tratamento não cirúrgico como imobilização, instrução de exercícios não supervisionados ou uso de suportes externos), um grupo holandês realizou uma ampla revisão sistemática de estudos clínicos controlados e randomizados, que incluíram pacientes com entorse lateral aguda de tornozelo1.

Onze estudos foram incluídos (n=776). A maioria dos estudos incluídos apresentou alto risco de viés, com pouco poder estatístico para detectar diferenças clinicamente relevantes. Não foram encontradas fortes evidências da eficácia de qualquer das medidas de desfecho. Mas mesmo assim, os autores sugeriram que a adição de exercícios supervisionados ao tratamento convencional leva a melhor e mais rápida recuperação e um rápido retorno ao esporte em curto prazo de acompanhamento (duas semanas) do que o tratamento convencional sozinho (evidência limitada a moderada). Em populações específicas (atletas, soldados, e os pacientes com lesões graves), houve mais rápido retorno ao trabalho e ao desporto (evidência limitada a moderada)

Enfim, utilizar exercícios supervisionados no tratamento de indivíduos com disfunções imediatas após entorse de tornozelo traz algum benefício para recuperação e retorno ao esporte, embora a evidência seja limitada ou moderada e muitos estudos estão sujeitos a vieses. Esta é a melhor evidencia disponível atualmente sobre o assunto.


Referência:

1. Rijn RMv, Ochten Jv, Luijsterburg PAJ, Middelkoop Mv, Koes BW, Bierma-Zeinstra SMA. Effectiveness of additional supervised exercises compared with conventional treatment alone in patients with acute lateral ankle sprains: systematic review. BMJ. 2010 26 out 2010; 341 ( c5688): 1-11. Acesse o resumo, ou o texto completo.
OBS: Respeite o trabalho alheio! Copiar estas postagens é permitido, desde que citada devidamente a fonte.

Ano mundial contra a dor aguda

A Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) declara o início do ano internacional contra a dor aguda, após encerrar o ano contra a dor musculoesquelética.
Material relacionado pode ser acessado aqui.

domingo, 31 de outubro de 2010

Oportunidade de curso sobre Idosos

Oportunidade aos fisioterapeutas que atuem na atenção básica dos estados do sul, sudeste e centro-oeste!
Foi prorrogado o prazo para inscrição para o curso de aperfeiçoamento Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa, promovido pela ENSP/Fiocruz em parceria com secretarias de saúde de alguns estados. 
O prazo para inscrição de alunos vai até o dia 03 de novembro. São 1000 vagas disponíveis e podem se inscrever profissionais de nível superior que trabalhem no SUS, na atenção básica, nas regiões sul, sudeste e centro-oeste. Vagas e instruções para inscrição podem ser obtidas nos editais 1 e 2.

Boa sorte e até lá!

Sugestões empreendedoras

Para os usuários afoitos por conhecimento, dedicados em suas atividades de trabalho e principalmente, com espírito empreendedor, indico alguns sites sobre assuntos relacionados.


O site Endeavor (ver aqui) é uma referência em empreendedorismo e possui uma biblioteca enorme com material quentíssimo sobre o assunto, em várias áreas. Destaco a área de eventos (atalho), que disponibiliza gratuitamente excelentes palestras realizadas previamente, bem como permite que você recebe por e-mail a programação das próximas, que poderão ser assistidas ao vivo. Destaco a palestra "Redes Sociais, Inovação e Empreendedorismo na Era Digital", sobre comunidades virtuais (Blogs, Facebook, twitter, etc) e o uso atual como ferramenta de trabalho de empresas e empreendedores (veja aqui).
O site do SEBRAE também disponibiliza várias informações interessantes para o profissional liberal, algumas específicas para a área. Cursos á distância também estão disponíveis, sem custos, como por exemplo, o de Aprender a empreender, que achei excelente (aqui), Curso de empreendedorismo (3 horas/aula, aqui) e qualidade máxima no atendimento ao cliente (3 horas/aula, aqui).

Dentre os blogs, merece destaque o site da colega Dra. Livia Sousa, chamado Papo de Fisio (veja aqui) que propõe mil idéias sobre como inovar e projetar planos de negócios na área, além de conter amplo material para pesquisa e leitura.

Aproveito para destacar alguns bons locais para qem já aderiu ao Facebook. A comunidade italiana FisioBrain (Facebook, página externa) e a recém criada Fisioterapia Neurofuncional (atalho), do amigo Rodolfo Alex Teles são boas opções para acompanhar notícias, eventos e atualidades da FisioNeuro. 


Agora é visitar e participar, para não morrer na praia com seus negócios!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Atualizações da PEDro


Prezados colegas:

A base de dados chamada PEDro (Physiotherapy Evidence Database) divulgou em seu último comunicado que continha 17.336 documentos até 11 de outubro de 2010. Destes:

- 14.090 são estudos clínicos randomizados (12.827 deles classificados conforme a qualidade metodológica);

- 2.510 revisões sistemáticas; e

- 644 diretrizes clínicas baseadas em evidência;

A despeito da falta de conhecimento massivo desta base de dados, podemos ressaltar a utilização dos brasileiros, atualmente responsável por 10% de todas as pesquisas na base de dados, terceiro lugar entre todos os países do mundo, ficando atrás apenas da Autrália, pais sede, e dos Estados Unidos. Segundo seu balance, no mês de setembro de 2010, a base de dados foi utilizada em média 5.154 vezes por dia, sendo os países abaixo os 10 maiores usuários, de janeiro até setembro de 2010:
19%    Austrália
15%    Estados Unidos
10%    Brasil
5%    Holanda
5%    Itália
4%    Portugal
3%    Alemanha
3%    Suíça
3%    Reino Unido
3%    Nova Zelândia
Para tentar responder dúvidas clínicas e começar pesquisas sobre assuntos na área fisioterapêutica, pesquisar na PEDro é fundamental, pois reúne material relevante, já classificado conforme a qualidade do mesmo, e mais importante, seu acesso é livre!
Para experimentar, acesse aqui.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Fator de impacto da Revista Brasileira

Complementando a postagem de 15 de agosto deste ano (ver aqui), gostaria de citar que, já em agosto de 2010 foi divulgado o fator de impacto da Revista Brasileira de Fisioterapia no ISI-JCR: 0,338.

Segundo seus editores: "Tal conquista é o resultado do esforço coletivo dos pesquisadores, que têm envidado esforços para produzir no Brasil, um periódico de nível internacional, que contribua e fortaleça as áreas de Fisioterapia e Ciências da Reabilitação". Eles agradeceram "o empenho dos autores, revisores e editores que contribuíram diretamente para esta conquista" e conclamaram a todos para que fortaleçam este fator de impacto.

E como podemos fazer isso? Primeiramente, seguindo a solicitação do corpo editorial do periódico que, sem desmerecer os demais, representa a mais alta produção do conhecimento fisioterapêutico nacional, e, por conseguinte, a capacidade intelectual do fisioterapeuta brasileiro. Empenhando-nos, em massa, em várias frentes de batalha, na competição da bibliometria mundial. Devemos citar estudos deste periódico em publicações internacionais, mais e cada vez mais. E o mais difícil, direcionar material de qualidade, aptos para aceite em revistas internacionais, para a Revista Brasileira de Fisioterapia, que, pelas regras de pontuação de currículo, pode representar um verdadeiro exercício de altruísmo.

Á despeito de críticas sobre os indicadores de acompanhamento do sucesso dos periódicos, como o fator de impacto, questionado em sua confiabilidade pelo grande número de autocitações em alguns periódicos com grande fator de impacto no Brasil1, a mesma estratégia é utilizada amplamente em periódicos internacionais, e pode significar que assuntos tratados em números anteriores da revista ainda estão vivos, promovendo debate e conhecimento.

Longe de ser um númeor que mereça um periódico da sua importância, penso que este 0,338 talvez reflita a limitação que temos em citar autores e produtos nacionais. Mas acredito que, como vários periódicos nacionais com inclusão recente no ISI, observaremos uma curva ascendente deste referencial de uma profissão que cresce esmagadoramente, não apenas em números, mas também em conhecimento em todas as suas áreas, e otimismo dos envolvidos com a produção deste conhecimento2.

Parabéns, vida longa e ascendente fator de impacto a Revista Brasileira de Fisioterapia!

Referências:

1. Moser ADL. Editorial. Fisioter Mov. 2010 jul/set; 23 (3): 347-8.

2. Coury HJCG, Mancini MC. Um triênio de conquistas conjuntas no CNPq. Rev Bras Fisioter. 2010 jul-ago; 14 (4): v-vii.

OBS: Respeite o trabalho alheio! Copiar estas postagens é permitido, desde que citada devidamente a fonte.

sábado, 23 de outubro de 2010

Drenagem linfática...


Como estou comentando sobre estudos relacionados com minha prática profissional, mas não necessariamente técnicas que utilizo no dia-a-dia, desta vez estenderei a apresentação de resultados clínicos sobre drenagem linfática. A técnica para o tratamento do edema periférico tem ganhado enorme espaço nos serviços de fisioterapia e é popularizado também em serviços técnicos de estética. Constantemente somos questionados pelos pacientes sobre sua eficácia e validade para ser utilizado paralelamente a alguns tratamentos de saúde. Para tanto, apresento alguns dados adiante.

Este ano, a Revista espanhola Rehabilitacion resumiu muito bem o conhecimento atual e principalmente, a evidência crítica sobre o assunto1, o que mais nos interessa para o caráter informativo. Segundo os autores, o objetivo da drenagem linfática é estimular a saída de linfa e líquidos intersticiais de uma região edemaciada. É uma técnica de tratamento por compressão externa, habitualmente pneumática (por câmaras de ar) que produz uma pressão intermitente da região afetada. Pode ainda ser feita através de suave pressão manual, na forma de massoterapia, quando é chamada drenagem linfática manual.

Existem diferentes escolas de drenagem linfática manual, porém todas mantêm aspectos comuns, como sua indicação de pressoterapia nos linfedemas de estágio I e II e drenagem linfática manual nos linfedemas estágio II e III (Classificação da Sociedade Internacional de Linfologia). Segundo a revisão, existem múltiplos estudos que avaliam sua indicação nas doenças venosas, no entanto, seu uso para o tratamento do linfedema é controverso e não está recomendado de maneira isolada pelo risco de desenvolver fibroses em longo prazo, piorando o linfedema.

Os autores descrevem as evidências oriundas de revisões sistemáticas sobre o assunto, que demonstraram resultados contraditórios ou insuficientes para se comprovar a eficácia da drenagem linfática isolada. Mesmo assim, recomendaram sua utilização baseada em consensos. Segundo eles: "Ainda que faltem estudos de qualidade metodológica que demonstrem sua eficácia, consensos recomendam tanto a drenagem linfática manual, quanto a pressoterapia na primeira fase do tratamento do linfedema, sempre acompanhada de malhas de compressão, exercícios e cuidados da pele".

NOTA: Esta publicação destaca alguns achados da literatura atual, que podem ser modificados por pesquisas futuras. Novas pesquisas poderão comprovar ou refutar a validade do método na prática diária. Comentários e questionamentos serão muito bem vindos, desde que acompanhados de evidências de nível superior ou equivalente ao apresentado acima. Experiência pessoal, positiva ou negativa, também é importante, mas tem peso menor que consensos, estudos clínicos e revisões sistemáticas para replicação ou generalização para que seja indicado em populações.

Referências:

1. Cátedra-Vallés E, García-Bascones M, Puentes-Gutierrez AB. Drenaje linfa ´tico manual y presoterapia. Rehabilitacion. 2010; xx (xx): 1-5 In press.

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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Pilates pode ser proposto para tratar lombalgia


Os métodos terapêuticos ganham espaço na mídia e aceitação das pessoas de várias formas. Algumas tem seu reconhecimento avalizado pelo método científico após adequadamente mensurado risco e benefício. Outras vezes, o espaço é adquirido pela procura da população ou apelo do mercado. Outras vezes, a mídia se encarrega de popularizar métodos e técnicas. Outros recursos são popularizados pelo uso e tradição. Exemplos destas situações podem ser, respectivamente, algumas técnicas manuais (manobras de reposição vestibular), a drenagem linfática, a Reeducação Postural Global (RPG) e "fisioterapia tradicional", pela ordem.

Um exemplo curioso de como aproveitar o apelo social (de mercado), a exposição na mídia, e o embasamento para validação científica está sendo feito pelo Pilates. Recentemente, foi divulgada uma revisão sistemática1 com objetivo de agrupar todos os ensaios clínicos controlados que utilizaram o Pilates para tratar lombalgia. Uma ampla busca foi proposta em nove bancos de dados e listas de referências até maio de 2010. Desfechos como mudanças na função corporal, qualidade de vida e dor foram definidos.

Foram encontrados quatro estudos clínicos randomizados e controlados, totalizando 218 participantes, com qualidade metodológica baixa e heterogêneos quanto a população, grupos de controle, critérios de inclusão e exclusão, e medidas de resultados, impedindo seu agrupamento em metanálise. Foi observada uma redução significante na intensidade da dor, da incapacidade, melhor adesão e resposta ao tratamento (um estudo, n=53, risco de viés altíssimo); aumento da saúde geral, função no esporte, flexibilidade, propriocepção e diminuição da dor lombar (n=54, risco de viés moderado); diminuição significativa da incapacidade e intensidade da dor (n=39, risco de viés baixo); e redução de 50% da dor em 70% das pessoas tratadas (n=87, risco de viés alto).

Porém esta não é a primeira revisão sistemática sobre o assunto. Silva e Mannrich2 foram os pioneiros e publicaram no ano passado sua revisão em português. Á despeito da limitada abrangência (utilizaram apenas duas bases de dados, um único termo de busca e restringiram os anos dos artigos) concluiram que "o método pode ser utilizado na reabilitação em diferentes populações, incluindo gestantes e idosos, com diferentes finalidades, entre elas: tratamento da lombalgia, correção postural, ganho de massa óssea, e de força no período pós-operatório; sendo mais indicado no tratamento da lombalgia, independente da idade."
O Pilates está longe de ser um padrão ouro para o tratamento da lombalgia. Para isso, outros estudos devem comparar o resultado terapêutico do método com outros recursos como a estabilização vertebral, ou mesmo opções terapêuticas mais "tradicionais" como a eletroterapia, orientações em escola de coluna, cinesioterapia das mais variadas formas, entre outros recursos.
Enfim, é cedo pra evidenciar a validade terapêutica do Pilates para tratar lombalgia, e outras disfunções, mas o caminho para isso está traçado, pois outros estudos clínicos devem ser providenciados á partir da revisão de Posadzki e colaboradores.

NOTA: Vale lembrar que toda e qualquer opção terapêutica deve ser discutida e orientada por profissional de saúde competente na área, e a tomada de decisão sobre sua utilidade ou não, deve ser uma opção consensual entre os profissionais assistentes e o paciente. Se você é portador de alguma disfunção funcional, pergunte ao seu fisioterapeuta sobre as opções disponíveis para o seu tratamento ou acompanhamento funcional.

Referência:

1. Posadzki P, Lizis P, Hagner-Derengowska M. Pilates for low back pain: A systematic review. Complementary Therapies in Clinical Practice. 2010; xx (xx): 1-5. In press.

2. Silva ACLG, Mannrich G. Pilates na reabilitação: uma revisão sistemática. Fisioter Mov. 2009 jul/set; 22 (3): 449-55. Acesse aqui.
OBS: Respeite o trabalho alheio! Copiar estas postagens é permitido, desde que citada devidamente a fonte.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Exercício é fundamental para indivíduos com artrose


A osteoartrite é uma doença crônica das articulações. O quadril e joelho são as regiões dos membros inferiores mais comumente afetadas. Osteoartrose provoca dor, rigidez, inchaço, instabilidade articular e fraqueza muscular, que pode levar a disfunções e redução da qualidade de vida.

Tratamento conservador através de estratégias não-farmacológicas, particularmente o exercício, são recomendados por todas as diretrizes clínicas para a gestão da osteoartrite e metanálises apoiam recomendações de exercícios. Em uma ampla revisão recente1, publicada no "Journal os Science and Medicine in Sport" (fator de impacto=1,570), foram fornecidos subsídios para a prescrição de exercício em pacientes com osteoartrite do quadril ou do joelho.

Tipos de exercícios:

Exercícios aeróbicos, de fortalecimento, exercícios aquáticos e Tai Chi são cruciais para melhorar a dor e função em pessoas com osteoartrite com benefícios em toda a gama de severidade da doença. A dosagem ótima de exercício ainda está para ser determinada e uma abordagem individualizada para a sua prescrição é necessária, com base numa avaliação das deficiências, das preferências do paciente, sua morbidade e acessibilidade.

Alguns pontos-chave:

- Maximizar a adesão é um elemento importante para o sucesso da cinesioterapia (terapia por exercícios). Isso pode ser reforçado pela utilização de sessões de exercício supervisionado (possivelmente no formato de aula) no período inicial, seguido de exercícios domiciliares.

- Retornos para consultas intermitente, ou a participação em sessões de "reciclagem" ou aulas de ginástica em grupo também podem ajudar a longo prazo na aderência e melhora os resultados.

Poucos estudos avaliaram os efeitos do exercício sobre a progressão da doença estrutural e não há atualmente nenhuma evidência para mostrar que o exercício pode ser modificadores da doença.

Assim, o exercício físico orientado individualmente, baseado numa boa avaliação cinesiológica funcional prévia e planejado de acordo com as crenças, porém pautado em expectativas realísticas, tem um papel importante no manejo de sintomas nos indivíduos com osteoartrite do quadril e/ou do joelho.

Referência:

1. Bennell KL, Hinman RS. A review of the clinical evidence for exercise in osteoarthritis of the hip and knee. Journal of Science and Medicine in Sport 2010; xx (xx): 1-6. In press.
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domingo, 17 de outubro de 2010

A capacidade funcional prevê mortalidade precoce


Evidências crescentes indicam que a capacidade física (capacidade de executar tarefas físicas diárias) prevê o futuro da saúde e mortalidade. Em uma revisão sistemática recentemente publicada no BMJ1, os investigadores determinaram as associações entre as medidas objetivas simples das capacidades físicas com a mortalidade precoce, em idosos e demonstraram que a força de preensão, velocidade da marcha, levantar da cadeira e equilíbrio em pé são marcadores em idosos.

A maioria dos estudos encontrados na revisão sistemática envolveu pessoas com mais de 60 anos. O seguimento variou de 5 a 20 anos. Metanálise de 14 estudos que envolveram 53.000 pessoas mostrou que aqueles no quartil de menor força de preensão tiveram 67% mais chances de morrer durante o acompanhamento do que pessoas no quartil mais alto. Metanálise de cinco estudos que envolveram 15.000 pessoas mostrou que aqueles no quartil com velocidade de caminhada mais lenta, têm três vezes mais probabilidades de morrer durante o acompanhamento de pessoas no menor quartil. Metanálise de cinco estudos que envolveram 28.000 pessoas mostrou que aqueles no quartil mais lento para levantar da cadeira tiveram probabilidade dobrada de morrer durante o acompanhamento. Todas as análises foram ajustadas para idade, sexo e tamanho do corpo.

Apesar de encontrados estudos heterogêneos, as medidas objetivas da capacidade física como a força de preensão manual, velocidade de caminhada, para levantar da cadeira e o equilíbrio em pé são capazes de prever a mortalidade precoce de idosos que vivem na comunidade. As vias pelas quais essas medidas estão associadas com a mortalidade não são claras, mas os resultados podem ser úteis para identificar idosos em risco de morte prematura.

Tais medidas fazem parte da propedêutica usual dos clínicos que atendem idosos, incluindo fisioterapeutas especializados neste tipo de cuidados. Vale lembrar que a abordagem fisioterapêutica especializada já está bem fundamentada para diminuir o risco de quedas, morbidade e mortalidade em idosos, principalmente através da reabilitação vestibular individualizada. No entanto, são necessários capacitação e treinamento adequado por parte do profissional que irá realizar o tratamento.

Fonte: Journal Watch General Medicine October 5, 2010

Referência:

1. Cooper R, Kuh D, Hardy R, all e. Objectively measured physical capability levels and mortality: systematic review and meta-analysis. BMJ. 2010; 314 (c4467): 1-12.Texto completo aqui.
OBS: Respeite o trabalho alheio! Copiar estas postagens é permitido, desde que citada devidamente a fonte.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Glucosamina e condroitina para artrose, isso funciona?


Mesmo indo além do escopo deste site, decidimos divulgar os resultados desta pesquisa pela importância da publicação e relação direta com o tratamento medicamentoso adotado por muitos pacientes sob tratamento fisioterapêutico e que por vezes, se questionam sobre seu tratamento alopático.

O último número da Revista BMJ (FI=13,660) publicou uma metanálise1 avaliando a eficácia da condroitina e glicosamina, comparada a placebo. Foram agrupados os resultados de 10 ensaios clínicos, totalizando 3803 indivíduos. Foram considerados como desfechos a diminuição da dor e o espaço articular.


Fonte da figura aqui 
Todos os resultados não atingiram significância estatística, seja utilizando as drogas isolada ou combinadamente. Curiosamente, o estudo apresentou efeitos menores em estudos clínicos não financiados pela indústria farmacêutica.

Assim, os autores concluíram que: "Comparado com placebo, glucosamina, condroitina, e sua combinação não reduzem a dor articular ou têm impacto na diminuição do espaço articular'. Os autores recomendam ainda que "as autoridades de saúde e seguradoras de saúde não devem cobrir os custos destas preparações, e novas receitas para pacientes que não receberam o tratamento devem ser desencorajadas".

OBS: Destaco que esta informação tem caráter informativo e não deve servir para subsidiar qualquer alteração em tratamento previamente prescrito por profissional de saúde legalmente habilitado.

Referência:

1. Wandel S, Jüni P, Tendal B, Nüesch E, Villiger PM, Welton NJ, et al. Effects of glucosamine, chondroitin, or placebo in patients with osteoarthritis of hip or knee: network meta-analysis. BMJ. 2010 16 set;341:c4675. Texto completo aqui.
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domingo, 26 de setembro de 2010

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Palestra gratuita: Dia mundial da Doença de Alzheimer




Palestra do site Cuidadores na Web - Dia Mundial da Doença de Alzheimer

Data: 21/9 (terça-feira)

Horário: 21h

Tema: Equipe Multidisciplinar

Convidado: Dr. Ivan Hideyo Okamoto (médico)

domingo, 12 de setembro de 2010

AVC, AVE ou Derrame?

Na última edição da Revista Neurociências (atalho aqui), em uma carta ao editor (acesso aqui), Rubens José Gagliardi, Professor Titular  de Neurologia  da  Faculdade  de Ciências Médicas  da Santa Casa de São Paulo, debate a denominação "Derrame", "Acidente Vascular Cerebral" e "Acidente Vascular Encefálico".

Resumidamente, o autor sugere seguir recomendações elaborada pela Sociedade de Brasileira de Doenças Cerebrovasculares (SBDCV), que consensou em 1996 e ratificou em 2008, a utilização do termo derrame ao se dirigir a um público leigo, e acidente vascular cerebral ao se dirigir a um público especializado.

Esta sociedade não recomenda o termo Acidente vascular encefálico não oferecer benefício semântico significativo em relação aos demais. além de ser impreciso e pouco conhecido.

Vale a pena dar uma olhada nesse artigo curto e cheio de curiosidades sobre esses termos.

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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Balance rehabilitation - da pesquisa para a prática clínica

Baita curso, promovido pelas Profas Camila Torriani-Pasin e Maria Teresinha Baldessar Golineleo, após o Congresso da  IBITA (Associação Internacional dos Instrutores do Conceito Bobath -  verifique aqui), em Florianópolis, SC, nos dias 5 e 6 de setembro.

Ann Shumway-Cook, PT, PhD
Marjorie Woollacott, PhD
Marjorie Woollacott e Ann Shumway-Cook expuseram as evidências mais recentes sobre o treinamento para recuperação do equilíbrio e controle postural, principalmente em idosos, portadores de sequelas de Acidente Vascular Encefálico, Doença de Parkinson e Paralisia Cerebral.

Abordagens diversas como treinamento de duplas tarefas, terapia por contensão induzida (de membros superiores e inferiores) foram discutidos e resultados de pesquisas foram apresentados. Surgiram debates produtivos sobre intensidade dos exercícios, recursos de realidade virtual, etc.

O melhor, no entanto, foram os exercícios práticos de avaliação clínica objetiva do equilíbrio corporal, que enfatizaram os aspectos motores, sensitivos e cognitivos do equilíbrio.

A Profa. Ann Shumway se formou fisioterapeuta em 1969, e é co-autora do livro Controle motor: Teoria e Aplicações, Práticas, juntamente com a Profa. Marjorie Woollacott. Mais informações sobre a abordagem do curso visite aqui.

Parabéns aos organizadores do evento e obrigado as professoras pelo conhecimento e experiência transmitidos!

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domingo, 29 de agosto de 2010

Publicar ou perecer

No mundo acadêmico, tão importante quanto fazer a descoberta é divulgá-la entre os pares, papel das revistas científicas. Editor de uma delas, Carlo Magenta Cunha fala no Estúdio CH sobre a importância, as dificuldades e o futuro de tais publicações.

Para ouvir a entrevista sobre processo de publicação, fator de impacto, e acesso as publicações, acesso o link abaixo:

Publicar ou perecer — Instituto Ciência Hoje

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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Doença de Ménière

“A quantidade de informações no mundo dobrou nos últimos dez anos e continua a dobrar a cada 18 meses. Porém, aproximadamente 150 anos se passaram desde que Prosper Ménière descreveu pela primeira vez a constelação de sintomas que é chamada Doença de Ménière, cuja etiologia definitiva e o tratamento resolutivo estão ainda faltando.” Foi assim que iniciou o editorial do jornal Otalaryngologic Clinics of North America (FI=1,136), divulgado este mês, com um número só sobre este problema1.
A também chamada Síndrome de Ménière é uma doença do ouvido interno caracterizada por ataques de vertigem, perda auditiva, plenitude aural e zumbido. Á princípio, tem origem idiopática e não se conseguiu atribuí-la a qualquer causa2. Ainda há dúvidas sobre se o que causaria fenômenos vestibulares e auditivos teria origem em alguma doença metabólica, do desenvolvimento, genética, auto-imune ou infecciosa. Provavelmente é multifatorial1.
A incidência e prevalência variam muito, de acordo com os estudos. São mencionadas prevalências entre 3,5/100mil e 513/100mil. Um grande estudo com mais de 60 milhões de pessoas encontrou uma prevalência de 190 casos a cada 100 mil habitantes (1,89 mulheres para cada homem), que aumenta com a idade. As limitações provocadas pela doença são substanciais, especialmente na qualidade de vida 3.
Operacionalmente falando, a Doença de Ménière é um ouvido frágil, ou poderia ser definido como um ouvido em degeneração, que tem sua homeostasia abalada, resultando em instabilidade da audição e do equilíbrio. Não há um teste clínico definitivo para a doença, e seu principal diagnóstico diferencial é a enxaqueca. Os ataques podem ser controlados na maioria dos casos, mas a perda auditiva tendem a não responder com o tratamento4.
É defendido que um processo chamado hidrópsia endolinfática seja responsável pela doença, sem uma definição do mecanismo exato, uma vez que nem sempre a presença de hidropsia resulta em sintomas. Mesmo assim, evidencias indicam que o controle da hidropsia pode ser a chave para manter a doença em remissão e controle dos sintomas5.
Há casos, como para algumas mulheres com a doença, em que ocorre piora dos sintomas durante o período pré-menstrual, assim como enxaqueca. Nestes casos, um calendário controlando os sintomas, dieta e a menstruação podem ser úteis para o entendimento da doença e ajudar no tratamento. Dieta com restrição de sódio (sal) e diuréticos são efetivos para auxiliar no controle dos sintomas para a maioria dos pacientes6.
Acomete adultos, entre 20-60 anos, e ocorre em mais de 10% de pacientes com mais de 65 anos. O tratamento em idosos é desafiador pela polifarmácia. Nestes casos, alguns remédios (antivertiginosos:betahistidina, cinarizina) dão bons resultados em efeitos secundários menores. Em contraste, outras drogas (supressores vestibulares: thiethylperazin) devem ser evitadas por longos períodos pelos efeitos colaterais. Procedimentos cirúrgicos são opcionais e caso dependentes. Terapia ablativa pode ser eficiente em casos de ataques de queda, pelo risco potencial de outras lesões e conseqüências sociais da queda no idoso7.
O tratamento principal não é cirúrgico, porém a falta de entendimento da natureza da condição torna impossíveis tratamentos definitivos. O tratamento moderno é focado para controlar os sintomas8.
Os sintomas flutuantes de perda auditiva, zumbido e sensação subjetiva de ouvido cheio (plenitude aural) são acompanhados de vertigem. Ao longo destes sintomas, pacientes crônicos desenvolvem sintomas de desequilíbrio e instabilidade que se estendem além dos períodos de crise e contribuem para a deficiência e reduzem a qualidade de vida. Por isso, a Fisioterapia (através da Reabilitação vestibular) tem sido indicada após a perda vestibular ter sido estabilizada pela ablação vestibular, ou para pacientes estáveis em tratamento medicamentoso sem flutuação dos sintomas. Quando utilizada adequadamente, é capaz de promover melhora subjetiva das queixas e do equilíbrio mensurado objetivamente. Há iniciativas propondo a extensão da reabilitação vestibular para pacientes não estáveis também9.

Referências:
1. Harris JP, Nguyen QT. Meniere's Disease: 150 years and still elusive Otolaryngologic Clinics of North America. 2010 Oct;43(5):xiii-xiv.
2. Agrawal Y, Minor LB. Physiologic effects on the vestibular system in Meniere's Disease. Otolaryngologic Clinics of North America. 2010 Oct;43(5):985-93.
3. Alexander TH, Harris JP. Current epidemiology of Meniere's Syndrome. Otolaryngologic Clinics of North America. 2010 Oct;43(5):965-70.
4. Rauch SD. Clinical hints and precipitating factors in patients suffering from Meniere's Disease. Otolaryngologic Clinics of North America. 2010 Oct;43(5):1011-7.
5. Salt AN, Plontke SK. Endolymphatic Hydrops: Pathophysiology and Experimental Models. Otolaryngologic Clinics of North America. 2010 Oct;43(5):971-83.
6. Andrews JC, Honrubia V. Premenstrual exacerbation of Meniere's Disease revisited. Otolaryngologic Clinics of North America. 2010 Oct;43(5):1029-40.
7. Vibert D, Caversaccio M, Häusler R. Meniere's Disease in the elderly. Otolaryngologic Clinics of North America. 2010 Oct;43(5):1041-6.
8. Greenberg SL, Nedzelski JM. Medical and noninvasive therapy for Meniere's Disease. Otolaryngologic Clinics of North America. 2010 Oct;43(5):1081-90.
9. Gottshall KR, Topp SG, Hoffe ME. Early vestibular physical therapy rehabilitation for Meniere's Disease. Otolaryngologic Clinics of North America. 2010 Oct;43(5):1113-9.


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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Novas evidências sobre a TENS

Dando continuidade a nossa série sobre efetividade do TENS (link), trago os resultados da última pesquisa sobre o assunto. Um grupo da Turkia publicou este mês no Archives of Physical Medicine and Rehabilitation (FI= 2,184) resultados de uma avaliação duplamente cega entre grupos de participantes randomizados com Síndrome de túnel do carpo (STC), analisando resultados de imagens de Ressonância Nuclear Magnética Funcional1.
Dois grupos de 10 indivíduos com STC receberam uma aplicação de 30 minutos de TENS convencional (T=200µs, F=100Hz, estímulo sensorial, sem contração perceptível) e TENS placebo (sem intensidade de corrente), sobre o nervo mediano. Depois de 20-25 minutos do término da estimulação elétrica, foi encontrada diminuição significativa da ativação cortical de áreas relacionadas a percepção da dor no grupo submetido a TENS, o que não aconteceu no grupo controle (TENS placebo). Esta analgesia durou até 30-35 minutos após o tratamento.
Estudos com RNMf são baseados em alterações no nível de oxigenação sanguínea regional, que refletem mudanças no metabolismo e atividade celular. Esta técnica está sendo cada vez mais utilizada para demonstrar atividade funcional de áreas do cérebro ao longo do tempo e para avaliar a resposta terapêutica de analgésicos em várias condições dolorosas.
A despeito de uma amostra tão pequena, o estudo demonstrou, através de um método científico e inovador, as alterações funcionais que ocorrem no sistema nervoso central após a estimulação elétrica analgésica. Comprovou assim, laboratorialmente, a eficácia do TENS para portadores de STC.
A efetividade, melhor definida como o benefício clínico e de maior relevância para a rotina dos serviços, não foi discutida, pois não foi mensurada pelos autores. Foi feita uma única aplicação, afim de comparar alterações antes e após a estimulação elétrica. O estudo não teve objetivo de avaliar efetividade clínica do recurso, mas adiantou que estes resultados são preliminares de futuras pesquisas neste sentido.

Referência:
1. Kara M, Özçakar L, Gökçay D, Özçelik E, Yörübulut M, Güneri S, et al. Quantifcation of the effects of transcutaneous electrical nerve stimulation with functional magnetic resonance imaging: a double-blind randomized placebo-controlled study. Arch Phys Med Rehabil. 2010 Ago;91:1160-5.
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