quinta-feira, 22 de julho de 2010

Síndrome do túnel do carpo: efetividade da fisioterapia

Neste mês, um grupo de pesquisa holandês publicou no Archives of Physical Medicine and Rehabilitation (FI=2.184) duas grandes revisões sistemáticas sobre a efetividade do tratamento cirúrgico e não cirúrgico para a Síndrome do túnel do carpo1, 2, dividido em dois artigos. O texto com os resultados dos recursos não cirúrgicos se destaca pela quantidade de informação e pela abrangência dada as inúmeras propostas de tratamento já estudadas sobre o assunto, desde imobilizadores, tipos de teclado, incluindo diferentes modalidades fisioterapêuticas.

Muitas dúvidas podem surgir ao se conduzir o tratamento fisioterapêutico de um indivíduo com Síndrome do Túnel do Carpo e uma coletânea do que diz a literatura sobre o assunto nos ajuda a ter algumas diretrizes que podem nos subsidiar mais claramente. Vale ressaltar que, á seguir, será apresentado o atual “estado da arte” sobre o assunto. Estas recomendações, no entanto, podem mudar se ocorrerem avanços nas pesquisas dos temas apresentados. Seguem os principais resultados do estudo, seguido da força de evidência conforme a seguinte escala do nível de evidência:

1. Evidência forte de efetividade: achados positivos e consistentes (mais de 75% de significância) em múltiplos estudos clínicos de alta qualidade.
2. Evidência moderada: achados positivos consistentes (significante) de múltiplos estudos clínicos de qualidade baixa ou de um estudo clínico de alta qualidade.
3. Evidência limitada: achado positivo (significante) de um estudo clínico de baixa qualidade.
4. Evidência conflitante: achados de estudos clínicos com menos de 75% de consistência (significância).
OBS: ao se afirmar que não há evidência significa que estudos de boa qualidade não demonstraram diferenças significantes.

Tala ou imobilização para o punho/mão
- Uma atadura noturna na mão (“brace”) é mais efetivo do que não fazer nada (evidência moderada em curto prazo - 2 semanas - e limitada em médio prazo).
- Tala em posição neutra é mais efetiva que a que mantém o punho em extensão de 20° em curto prazo/2 sem (evidência limitada).
- Usar tala em tempo integral não parece acrescentar benefício a usá-la somente à noite, bem como não há provas de que haja mais benefício ao se comparar o uso de tala isolado com a atadura da mão (“brace”) à noite, nem ao associar a tala com aplicações de laser, ou com exercícios de yoga, em curto prazo.
- Corticosteróide oral é mais efetivo que a tala de punho em curto prazo (evidência moderada)

Ultra-som
- Não há evidências de que o ultra-som seja mais efetivo do que o placebo em curto prazo (2 semanas), mas sim após 7 semanas (evidência moderada).
- Não há evidências de diferenças entre a intensidades de 1,5W/cm² quando comparado com 0,8W/cm² em curto prazo, assim como ao se utilizar freqüências de 1 e 3 MHz.
- O ultra-som é mais efetivo do que o laser em curto prazo (evidência moderada).

Laser
Não há evidências de que o laser seja efetivo ao se comparar com o placebo em curto prazo.

Mobilizações e terapia manual
Mobilização dos ossos do carpo é mais efetiva do que não tratar em curto prazo (evidência limitada). Não houve diferença entre a efetividade da mobilização dos ossos do carpo comparado a mobilização neurodinâmica, em curto prazo; entre a técnica neurodinâmica + tala, comparado com terapia placebo + tala em curto prazo; ou da mobilização de tecidos moles assistida por instrumento (Graston??) + exercícios domiciliares comparada a mobilização de tecidos moles + exercícios domiciliares em médio prazo.
Não há evidência de efetividade da quiropraxia (“thrusts” manuais, massagem miofacial, ultra-som e tala noturna) comparada com tratamento medicamentoso (ibuprofeno) e tala em médio prazo (13 semanas).

Teclados ergonômicos
Teclado ergonômico é mais efetivo que o teclado padrão em 3 meses (evidência moderada), porém não em 6 meses (evidência limitada). Teclados na Apple® e da Microsoft® são mais efetivos que teclados normais em 6 meses (evidência limitada).

Campos magnéticos
Há moderada evidência de efetividade do campo magnético dinâmico (“dynamic magnetic field therapy”) após 2 meses.

Acupuntura
Não há evidências da efetividade da acupuntura com laser em curto prazo (3 sem), ou da acupuntura comparada com corticosteróides em curto prazo (4 sem).

Massagem
Massagem direcionada é mais efetiva que a massagem geral e sessões de massagem de 15 min., 1x/sem associada a auto-massagem diária é mais efetiva que não tratar em curto prazo (evidência limitada).

Compressa quente
Compressa quente é mais efetiva que placebo oral em curto prazo (3 dias de seguimento), porém ventosas (“cupping therapy”) é mais efetivo do que bolsa quente em 7 dias de seguimento (evidência moderada).

Iontoforese
Não há evidência de efetividade da iontoforese de dexametasona ao se comparar com placebo em médio e longo prazo (3 e 6 meses).

Exercícios de deslizamento do tendão e do nervo (“Tendon and Nerve Gliding Exercises”):
Há evidência limitada de que o uso integral de tala (dia e noite) por 6 sem + programa de exercícios + tala noturna por 4 sem + exercícios é mais efetivo que o mesmo tratamento sem os exercícios em curto prazo.
Exercícios neurodinâmicos adicionados ao tratamento padrão (tala noturna+durante atividades pesadas)+exercícios de deslizamento do tendão é mais efetivo que o tratamento padrão (tala) em médio prazo (evidência limitada). Não há evidência de superioridade de efeito entre os tratamentos com: 1. tala+exercícios; 2. tala+ultra-som; 3. tala mais exercícios+ultra-som em curto prazo.

Enfim, as evidências atualmente disponíveis indicam o benefício do ultra-som e do que entendemos ser equipamentos de ondas-curtas pulsado (??), descrito como “campos magnéticos dinâmicos”.  A tala noturna aparentemente ajuda tanto quanto a tala pelo dia todo, sendo sugerido seu uso apenas a noite. Teclados ergonômicos trazem mais benefícios. Massagem local e ventosa parece auxiliar no tratamento.

Vale salientar que as escolhas no mundo real do cotidiano clínico baseiam-se também nos recursos disponíveis, experiência e crenças do profissional e do paciente e vivências de ambos, o que pode variar as escolhas apontadas acima. Destacamos também que os estudos de baixa qualidade metodológica possuem grande risco de viés. Assim, outros estudos, com melhor qualidade, poderão confirmar ou refutar algumas das recomendações acima. 

Referências:
1. Huisstede BM, Hoogvliet P, Randsdorp MS, Glerum S, Middelkoop Mv, Koes BW. Carpal tunnel syndrome. Part I: effectiveness of nonsurgical treatments – a systematic review. Arch Phys Med Rehabil. 2010 Jul;91:981-1003.
2. Huisstede BM, Hoogvliet P, Randsdorp MS, Glerum S, Middelkoop Mv, Koes BW. Carpal tunnel syndrome. Part I: effectiveness of surgical treatments – a systematic review. Arch Phys Med Rehabil. 2010;91:1005-24.
OBS: Respeite o trabalho alheio! Copiar estas postagens é permitido, desde que citada devidamente a fonte.

domingo, 11 de julho de 2010

Biblioteca Cochrane: novo número, novo fator de impacto


Cochrane Library: new issue, new impact factor
A Biblioteca Cochrane (site), mantida pela Colaboração Cochrane (site) é considerada hoje uma das maiores e melhores fontes de evidências de efeitos clínicos na área da saúde e acabou de lançar o número 7 de 2010.
Em seu editorial (acesse aqui)1, David Tovey destacou pontos fortes da biblioteca, formada por uma rede de centenas de colaboradores, quase que na totalidade voluntários, distribuídos em mais de 100 países, que mantêm mais de 500 revisões sistemáticas atualizadas, as quais vem sendo utilizadas por agências internacionais (incluindo a Organização Mundial de Saúde), para nortear tomadas de decisões de pacientes, consumidores, profissionais de saúde e gestores.
Neste mês comemorou o aumento do seu fator de impacto para 5,653, mantendo a tendência de crescimento (2007=4,654, 2008=5,182). As revisões mais citadas e as mais acessadas podem ser visualizadas abaixo.
Mais citados em 2009
Mais acessados em 2009 (Textos completos)
Terapia de reposição de nicotina para a cessação tabágica
64
Intervenções para o tratamento da obesidade em crianças
10432
Antidepressivos para deixar de fumar
60
Intervenções para prevenção de quedas em idosos vivendo na comunidade
8904
Agonistas parciais do receptor da nicotina para a cessação tabágica
52
Intervenções para a prevenção da obesidade em crianças
8096
Intervenções para melhorar a aderência da medicamentação
45
Intervenções para prevenção de quedas em idosos
7177
Cuidados para o paciente internado em Unidade de AVC
45
Exercício ou exercícios e dieta para prevenir o diabetes tipo 2
5814
Hipotermia para recém-nascidos com encefalopatia hipóxico isquêmica
42
Programas de atividade física baseados na escola para promoção da atividade e aptidão física para crianças e adolescentes com idades entre 6-18
5192
Antidepressivos para dor neuropática
37
Superfícies de apoio à prevenção de úlcera de pressão
5071
Imunoterapia injetável para rinite alérgica sazonal
34
Intervenções para melhorar a aderência à medicamentação
5044
Corticosteróides para meningite bacteriana aguda
32
Terapia de reposição de nicotina para a cessação tabágica
4549
Análogos de insulina de ação prolongada versus insulina NPH para diabetes mellitus tipo 2
32

Destaco o número de acessos das revisões sobre quedas em idosos, na tabela acima, e ainda uma nova revisão sobre o uso de musicoterapia para lesões cerebrais adquiridas que tem mostrado efetiva na recuperação da marcha pós AVC (acesso aqui).
Referência:
1. Tovey D. Impact of Cochrane Reviews [editorial]. The Cochrane Library 2010 (7 July). http://www.thecochranelibrary.com/details/editorial/756937/The-Impact-of-Cochrane-Reviews-by-Dr-David-Tovey.html (accessed 11 Jul 2010).

domingo, 4 de julho de 2010

Congresso Nacional da Fisioterapia na Saúde Coletiva

Para acessar a página do evento, clique aqui.

O que é o fator de impacto?


What is the Impact Factor?

O fator de impacto dos periódicos é uma medida da freqüência que artigos publicados em um periódico são citados por ele, ou outros periódicos num determinado período de tempo de dois anos.

O fator de impacto nos permite uma avaliação da importância relativa do periódico, especialmente quando o comparamos com outros na mesma área.

Como é calculado?

O fator de impacto de um periódico é calculado dividindo, o número total de citações dos artigos publicados nos dois anos anteriores, pelo número total dos artigos presentes no periódico no mesmo período.

Exemplo:
- Citações em 1999 de artigos publicados em:
1998 = 7381
1997 = 11226
Número total de citações em 98 + 97 = 18807

- Número de artigos publicados por este determinado periódico em:
1998 = 278
1997 = 315
Número total de artigos publicados em 98 + 97 = 593

Cálculo:
Fator de Impacto = Número total de citações/Número total de artigos publicados
Fator de Impacto = 18807/593 = 31,715

Texto extraído e modificado de: http://gamba.epm.br/impact/impacto.htm
Os fatores de Impacto considerados neste site são referentes ao ano de 2008 e calculados com dados de 2006 e 2007. Utilizamos o fator de impacto produzido pelo "Journal of Citation Reports" (JCR) do Instituto for Scientific Information (ISI).

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Dinheiro compra felicidade? Pesquisa mundial responde

Dinheiro compra felicidade? Pesquisa mundial responde:

"Os países pesquisados representam cerca de 96 por cento da população mundial e refletem a diversidade das realidades culturais, econômicas e políticas ao redor do globo."

Os resultados, obtidos a partir da análise dos dados recolhidos no primeiro Gallup World Poll, foi publicado no exemplar deste mês do Journal of Personality and Social Psychology (Fator de Impacto = 5,035).

Como em estudos anteriores, a pesquisa descobriu que a avaliação da própria vida, ou a satisfação com a vida, eleva-se com a renda pessoal e nacional.


Mas os sentimentos positivos, que também aumentam ligeiramente com o aumento da renda, são muito mais fortemente associados com outros fatores, como a sensação de ser respeitado, de ter autonomia e apoio social, e de se ocupar com um trabalho gratificante.

Fonte: Diário da Saúde.