segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Saúde do idoso na atenção básica


No último mês, muitos periódicos publicaram informações referentes aos cuidados de saúde do idoso. Destaco um texto publicado no JAMA (FI=28,899) sobre o tratamento de idosos com múltiplas condições crônicas e necessidades complexas de cuidados de saúde. Alguém conhece algum???

Segundo os autores, este perfil de paciente normalmente recebe atendimento de saúde fragmentado, incompleto, ineficiente e inefetivo, e exemplifica com um estudo de caso de uma idosa, cujo problema de saúde não pôde ser resolvido efetivamente pela costumeira abordagem do diagnosticar e tratar a doença individualizada.

A riqueza do artigo está na intenção de demonstrar, através de um exemplo prático, os benefícios de uma abordagem interdisciplinar de cuidados ao idoso com múltiplas condições crônicas, e propõe focar este tipo de intervenção na atenção básica, estruturando os cuidados primários de saúde do idoso basicamente em quatro processos contínuos e pro-ativos, com potencial de melhorar suas condições de vida, funcionalidade e autonomia. Os processos propostos são os seguintes:

  1. Avaliação abrangente (ampliada) de todas as doenças do indivíduo, incapacidades, cognição, medicação, outros tratamentos, auto-cuidados, hábitos/estilo de vida, condições psicológicas, riscos ambientais, suporte familiar (ou amigos), e outros recursos associados com valores e preferências do paciente;
  2. Criação, implementação e monitoração de cuidados de saúde ampliados e baseado em evidências de todas as necessidades relacionadas à saúde do paciente, no contexto de suas preferências;
  3. Promoção de um engajamento ativo do paciente, familiares e cuidadores para os auto-cuidados;
  4. Coordenação entre os profissionais envolvidos (incluindo clínicos, especialistas dos hospitais e emergências, profissionais de reabilitação, da saúde mental, cuidadores domiciliares, assistentes sociais, e estratégias da comunidade como centros de convivência, programas de exercícios e grupos de apoio) no cuidado com o paciente, todos focados nas preferências e objetivos do paciente1.
São citadas evidências de efetividade e eficiência de alguns modelos de atenção ao idoso com múltiplas doenças crônicas propostos para manter um nível de funcionalidade suficiente para as atividades e participações sociais. Estes modelos têm em comum os aspectos acima, e são descritos por outro estudo do mesmo número do JAMA, e enfatizam programas de prática corporal e engajamento social2.

Prática corporal

A prática corporal ou atividade física é tida como uma estratégia importante para prevenir e reduzir conseqüências das doenças crônicas, obesidade e desuso. Mesmo intensidades baixas de exercícios (caminhada lenta para indivíduos limitados funcionalmente, p. exemplo) são úteis para melhorar estilos de vida sedentários, pois podem melhorar função, diminuir hospitalização e proteger contra doenças crônicas. Programas regulares reduzem a incidência de demência e retardam o início do declínio cognitivo associado à idade. Geralmente nunca é tarde para se tentar melhorar a função física e a qualidade de vida através de práticas corporais, mesmo quando já exista doenças crônicas ou perda funcional substancial. Movimentar-se mais e sentar menos são conselhos úteis! Incorporar caminhadas e alongamentos nas atividades de lazer; caminhar ou pedalar como meio de transporte; facilitar seu ambiente para permitir mais mobilidade durante o dia; e participar de atividades cívicas e sociais são estratégias úteis para manter a independência e autonomia do idoso2.

Os autores citam estratégias como: a prescrição, por escrito, da atividade física pelo profissional de saúde; acompanhamento por telefone, ou outra vias; e adicionar aos sistemas de referência e contra-referência os recursos de prática corporal/atividade física na comunidade, por exemplo.

Engajamento social


Fonte: Alagoas 24 horas (atalho)
O engajamento social é apontado como uma estratégia potencial para a promoção de saúde funcional. Trabalhos voluntários, como ajudar crianças no ambiente escolar, podem aumentar a força e atividade física, além de melhorar os níveis de atividade cognitiva e social. Outras atividades voluntárias e participação em movimentos cíveis e sociais também são úteis.2

Associando as informações deste material a realidade nacional, podemos verificar a necessidade de um sistema de saúde bem estruturado e organizado para dar conta de uma importante parcela da população, cada vez mais numerária. A utópica imagem do idoso como um membro venerado da sociedade que adquiriu respeito após uma vida inteira de trabalho e acúmulo de conhecimento nem sempre se confirma3. Para avançarmos, precisamos modificar o paradigma do atendimento ao idoso, desde sua avaliação (incluindo a avaliação funcional, cognitiva e das atividades de vida diária), até o atendimento ampliado, focado na recuperação da independência funcional e da autonomia social. Um acompanhamento atento e preocupado em mantê-lo ativo, garantirá a manutenção das aquisições por prazos mais longos.

Assim, fisioterapeutas, mexam-se para contribuir para este novo paradigma de assistência ao idoso, e contribuam, cada vez mais, dentro do seu escopo de trabalho, com os demais profissionais da equipe de saúde, de acordo com suas realidades.

Referências

1. Boult C, Wieland GD. Comprehensive primary care for older patients with multiple chronic conditions: "nobody rushes you through". JAMA. 2010 3 nov; 304 (17): 1936-43.

2. King AC, Guralnik JM. Maximizing the potential of an aging population. JAMA. 2010 3 nov; 304 (17): 1944-5.

3. Respect and care for the older person. Lancet. 2010 2010; 376: 1711.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

SUS elogiado internacionalmente

O último número da BMJ traz destaque interessante para o sistema de saúde brasileiro. Desde o editorial1, o Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro é colocado como um belo exemplo de sistema universal e gratuito que tem dado certo. Muitos elogios são feitos e a maior preocupação que possa comprometer o seu futuro bem sucedido poderia ser o aumento do poder de consumo da classe média, que tende a consumir mais os planos privados de saúde, que são os maiores concorrentes do SUS2.

Não é de hoje que o carro chefe do sistema de saúde nacional, voltado basicamente para o reforço da atenção primária da saúde, recebe elogios por dar conta de seus objetivos. A redução dos indicadores de saúde materno-infantil estão sendo cumpridos, alguns antecipadamente, numa meta de atingir até 2016, como mostrado no artigo (figura 1)3.

Cobertura populacional pela estratégia de saúde da família e mortalidade infantil (Dados do Ministério da Saúde Brasileiro). Fonte: BMJ
Após uma breve revisão histórica da implantação do SUS no Brasil, alguns dados são discutidos pelos autores, como a evolução da cobertura da estratégia de saúde da família desde o seu início e os bem sucedidos programas de imunização e de tratamento da HIV/AIDS. 


Foram feitas comparações entre o uso do SUS por pessoas de diferentes faixas de renda, demonstrando que a cobertura é maior em populações mais frágeis e a previsão sobre a universalidade do acesso é feita de forma bastante otimista.

São textos de acesso livre e que valem a pena dar uma olhada!

Referências:

1. Harris M, Haines A. Brazil's Family Health Programme. BMJ. 2010 29 nov; 341: c4945. Acesse aqui.
2. Hennigan T. Economic success threatens aspirations of Brazil's public health system. BMJ. 2010 29 nov; 341: c5453. Acesse aqui.
3. Guanais F. Health equity in Brazil. BMJ. 2010 29 nov; 341: c6542. Acesse aqui.