“A quantidade de informações no mundo dobrou nos últimos dez anos e continua a dobrar a cada 18 meses. Porém, aproximadamente 150 anos se passaram desde que Prosper Ménière descreveu pela primeira vez a constelação de sintomas que é chamada Doença de Ménière, cuja etiologia definitiva e o tratamento resolutivo estão ainda faltando.” Foi assim que iniciou o editorial do jornal Otalaryngologic Clinics of North America (FI=1,136), divulgado este mês, com um número só sobre este problema1.
A também chamada Síndrome de Ménière é uma doença do ouvido interno caracterizada por ataques de vertigem, perda auditiva, plenitude aural e zumbido. Á princípio, tem origem idiopática e não se conseguiu atribuí-la a qualquer causa2. Ainda há dúvidas sobre se o que causaria fenômenos vestibulares e auditivos teria origem em alguma doença metabólica, do desenvolvimento, genética, auto-imune ou infecciosa. Provavelmente é multifatorial1.
A incidência e prevalência variam muito, de acordo com os estudos. São mencionadas prevalências entre 3,5/100mil e 513/100mil. Um grande estudo com mais de 60 milhões de pessoas encontrou uma prevalência de 190 casos a cada 100 mil habitantes (1,89 mulheres para cada homem), que aumenta com a idade. As limitações provocadas pela doença são substanciais, especialmente na qualidade de vida 3.
Operacionalmente falando, a Doença de Ménière é um ouvido frágil, ou poderia ser definido como um ouvido em degeneração, que tem sua homeostasia abalada, resultando em instabilidade da audição e do equilíbrio. Não há um teste clínico definitivo para a doença, e seu principal diagnóstico diferencial é a enxaqueca. Os ataques podem ser controlados na maioria dos casos, mas a perda auditiva tendem a não responder com o tratamento4.
É defendido que um processo chamado hidrópsia endolinfática seja responsável pela doença, sem uma definição do mecanismo exato, uma vez que nem sempre a presença de hidropsia resulta em sintomas. Mesmo assim, evidencias indicam que o controle da hidropsia pode ser a chave para manter a doença em remissão e controle dos sintomas5.
Há casos, como para algumas mulheres com a doença, em que ocorre piora dos sintomas durante o período pré-menstrual, assim como enxaqueca. Nestes casos, um calendário controlando os sintomas, dieta e a menstruação podem ser úteis para o entendimento da doença e ajudar no tratamento. Dieta com restrição de sódio (sal) e diuréticos são efetivos para auxiliar no controle dos sintomas para a maioria dos pacientes6.
Acomete adultos, entre 20-60 anos, e ocorre em mais de 10% de pacientes com mais de 65 anos. O tratamento em idosos é desafiador pela polifarmácia. Nestes casos, alguns remédios (antivertiginosos:betahistidina, cinarizina) dão bons resultados em efeitos secundários menores. Em contraste, outras drogas (supressores vestibulares: thiethylperazin) devem ser evitadas por longos períodos pelos efeitos colaterais. Procedimentos cirúrgicos são opcionais e caso dependentes. Terapia ablativa pode ser eficiente em casos de ataques de queda, pelo risco potencial de outras lesões e conseqüências sociais da queda no idoso7.
O tratamento principal não é cirúrgico, porém a falta de entendimento da natureza da condição torna impossíveis tratamentos definitivos. O tratamento moderno é focado para controlar os sintomas8.
Os sintomas flutuantes de perda auditiva, zumbido e sensação subjetiva de ouvido cheio (plenitude aural) são acompanhados de vertigem. Ao longo destes sintomas, pacientes crônicos desenvolvem sintomas de desequilíbrio e instabilidade que se estendem além dos períodos de crise e contribuem para a deficiência e reduzem a qualidade de vida. Por isso, a Fisioterapia (através da Reabilitação vestibular) tem sido indicada após a perda vestibular ter sido estabilizada pela ablação vestibular, ou para pacientes estáveis em tratamento medicamentoso sem flutuação dos sintomas. Quando utilizada adequadamente, é capaz de promover melhora subjetiva das queixas e do equilíbrio mensurado objetivamente. Há iniciativas propondo a extensão da reabilitação vestibular para pacientes não estáveis também9.
Referências:
1. Harris JP, Nguyen QT. Meniere's Disease: 150 years and still elusive Otolaryngologic Clinics of North America. 2010 Oct;43(5):xiii-xiv.
2. Agrawal Y, Minor LB. Physiologic effects on the vestibular system in Meniere's Disease. Otolaryngologic Clinics of North America. 2010 Oct;43(5):985-93.
3. Alexander TH, Harris JP. Current epidemiology of Meniere's Syndrome. Otolaryngologic Clinics of North America. 2010 Oct;43(5):965-70.
4. Rauch SD. Clinical hints and precipitating factors in patients suffering from Meniere's Disease. Otolaryngologic Clinics of North America. 2010 Oct;43(5):1011-7.
5. Salt AN, Plontke SK. Endolymphatic Hydrops: Pathophysiology and Experimental Models. Otolaryngologic Clinics of North America. 2010 Oct;43(5):971-83.
6. Andrews JC, Honrubia V. Premenstrual exacerbation of Meniere's Disease revisited. Otolaryngologic Clinics of North America. 2010 Oct;43(5):1029-40.
7. Vibert D, Caversaccio M, Häusler R. Meniere's Disease in the elderly. Otolaryngologic Clinics of North America. 2010 Oct;43(5):1041-6.
8. Greenberg SL, Nedzelski JM. Medical and noninvasive therapy for Meniere's Disease. Otolaryngologic Clinics of North America. 2010 Oct;43(5):1081-90.
9. Gottshall KR, Topp SG, Hoffe ME. Early vestibular physical therapy rehabilitation for Meniere's Disease. Otolaryngologic Clinics of North America. 2010 Oct;43(5):1113-9.
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