quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Efetividade do protetor solar questionada

Vimos com curiosidade a troca de correspondências ocorrida em julho no The Lancet (FI=28,409), debatendo alguns resultados do estudo de Madan e colegas1, publicado em fevereiro/2010. Em um gráfico (figura ao lado), os autores apresentaram  o  aumento das vendas de protetor solar per capita desde 1990 nos Estados Unidos e Inglaterra, porém a incidência de câncer de pele acompanha este crescimento.
A partir dos dados deste estudo, Handel e Ramagopalan2 sugeriram que o aumento do consumo de protetor solar não está relacionado com melhor proteção da população contra o câncer de pele, condição importante para a saúde pública. Sugerem que este recurso talvez não esteja sendo usado de forma adequada, ou pode até mesmo estar sendo inefetivo. Além disso, o seu uso teria o risco potencial de inibir a síntese de vitamina D.
Em resposta, Madan e colegas3 questionam o raciocínio de que a exposição ao protetor solar não se traduz em redução de risco de câncer. Explicam que, embora não se conseguiu comprovar proteção contra o melanoma e o carcinoma das células basais, há ampla evidência do efeito protetor contra carcinoma de células escamosas e lesões precursoras.
Esclarecem ainda que outros estudos demonstraram que o protetor solar pode induzir um comportamento de abuso a exposição solar, o que poderia contribuir para o aumento da incidência da doença, pelo aumento do tempo a exposição a radiação UV.
Mesmo assim, defendem que o uso de protetor solar deve ser recomendado como uma abordagem custo-efetiva para se prevenir o câncer de pele, em especial o carcinoma de células escamosas.
Pontos interessantes:
- O questionamento de uma recomendação amplamente feita em campanhas de prevenção e quetemos como praticamente inquestionável, á partir de dados epidemiológicos.
- O aumento do risco da doença por um comportamento ao pensar que está imune. Ou seja, ao usar protetor solar nos sentimos protegidos e nos arriscamos ficando mais tempo expostos ao sol, o que aumenta o risco.
Por via destas dúvidas, e como já dizia Jorge Ben: “prudência, dinheiro no bolso e canja de galinha não faz mal a ninguém”.  Mas o comportamento é crucial!

Referências:
1. Madan V, Lear JT, Szeimies R-M. Non-melanoma skin cancer. Lancet. 2010 Fev;375:673-85.
2. Handel AE, Ramagopalan SV. The questionable effectiveness of sunscreen. Lancet. 2010 Jul;376(9736):161-2.
3. Madan V, Lear JT, Szeimies R-M. The questionable effectiveness of sunscreen: authors' reply. Lancet. 2010 Jul;376(9736):162.
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