Aproveito o comentário do colega Humberto Neto, do site O Guia do Fisioterapeuta, para adicionar algumas informações sobre a qualidade e quantidade das evidências publicadas na área da Fisioterapia.
Desde 2002 tem sido periodicamente mostrado o número de referências de estudos clínicos e revisões sistemáticas armazenados na base de dados PEDro (Physiotherapy Evidence Database) desde seu início, em 19991.
Observa-se na figura abaixo o crescente número de estudos clínicos randomizados e revisões sistemáticas arquivados nesta base de dados até 2002 (Figura 1 esq), bem como a qualidade média dos mesmos (Figura 1 dir).
Figura 1 – Esquerda: Número cumulativo de estudos clínicos e revisões sistemáticas na fisioterapia por ano. Direita: Freqüência da distribuição do Score PEDro para 2.297 estudos clínicos avaliados. Fonte: Moseley e cols, 20021.
Em 2008, a atualização destes números manteve a tendência de crescimento e a inclusão dos “Practice guidelines”, ou diretrizes de tratamento (Figura 2 esq), bem como se observou um leve incremento da qualidade dos mesmos (Figura 2 dir) 2.
Figura 2 – Esquerda: Número cumulativo de estudos clínicos, revisões sistemáticas e diretrizes clínicas baseadas em evidências (até set de 2007). Direita: Freqüência da distribuição de Score PEDro para 9.475 estudos clínicos arquivados até set de 2007. Fonte: Maher et al, 20082.
Em 2009, Elkins e Ada mensuraram, de forma semelhante à demonstrada pelos estudos acima, a qualidade metodológica do todos os estudos clínicos (47) publicados no Jornal Australiano de Fisioterapia. Observaram que a maioria dos estudos tinham uma qualidade acima de 7/103 (Figura 3 dir), enquanto que a nota que se destaca nos estudos arquivados na PEDro é 5/10 (Figura 3 esq) .
Figura 3 – Esquerda: Distribuição do resultado dos Score PEDro dos estudos clínicos arquivados na Base de dados PEDro entre 2005 e 2009 (n = 3508). Direita: Distribuição do Score PEDro dos artigos publicados no Jornal Australiano de Fisioterapia (n=47). Fonte: Elkins e Ada, 20093.
No Brasil, destacamos a análise feita recentemente por Coury e Vilella e publicado na Revista Brasileira de Fisioterapia. Elas demonstraram o crescimento do número de fisioterapeutas pesquisadores (doutores, em dez de 2009 = 573) e suas publicações ISI/JCR (1,99 publicações ao ano), bem acima da média nacional das demais áreas (1,44)4, reforçado por editorial em número subseqüente5 e release para a imprensa. Contraditoriamente ao crescimento de 900% no número de doutores em 10 anos, foi a área que recebeu menos apoio financeiro do CNPq por pesquisador (R$ 28,02 por pesquisador), um exemplo de resiliência .
Tudo isso vem corroborar que, no exterior e no Brasil, a quantidade e a qualidade das evidências em Fisioterapia está melhorando a cada ano. Várias hipóteses são aventadas, mas não podemos negar que, dessa forma, corremos atrás da comprovação de que o que fazemos no dia-a-dia, e faremos no futuro, de fato, é efetivo cientificamente (ou não!).
Referências:
1. Moseley AM, Herbert RD, Sherrington C, Maher CG. Evidence for physiotherapy practice: A survey of the Physiotherapy Evidence Database (PEDro). Australian Journal of Physiotherapy 2002:48:43-9.
2. Maher CG, Moseley AM, Sherrington C, Elkins MR, Herbert RD. A Description of the trials, reviews, and practice guidelines indexed in the PEDro Database. Physical Therapy 2008:88(9):1068-77.
3. Elkins M, Ada L. Quality of trials in Australian Journal of Physiotherapy. Australian Journal of Physiotherapy 2009:55:233-4.
4. Coury HJCG, Vilella I. Perfil do pesquisador fisioterapeuta brasileiro. Revista Brasileira de Fisioterapia 2009:13(4):356-63.
5. Salvini TF. Estudo inédito sobre o pesquisador fisioterapeuta brasileiro. Revista Brasileira de Fisioterapia 2009:13(5):v-vi.
3 comentários:
Olá Lázaro,
Estou gostando muito de acompanhar seu blog, realmente o nível e o embasamento de suas postagens está bem elevado.
Só gostaria de corrigir um pequeno erro: Este "vultuoso" financiamento do CNPq de R$28,02 por pesquisador não é um exemplo de resiliência, mas sim de determinação canina de nossos colegas Doutores. Fiquei de queixo caído com esta informação...
A pergunta que não quer calar é: Até quando vamos ter de continuar com o pires na mão implorando verbas e subsídios para reabilitação? e olha que não estou falando só de pesquisa não. Desculpe me alongar neste monólogo, mas sempre que me deparo com uma informação destas eu me sinto ultrajado como profissional e como pesquisador.
bem... cá estou eu me alongando novamente.
Mais uma vez parabéns pela postagem.
Já está provado que somos eficientes, pois fazemos o melhor possível com poucos recursos. Agora rumo ao reconhecimento profissional!
Hasta la victoria siempre!!!!!!!
É meu caro Humberto! De fato somos valentes. Apesar de tudo, estamos em evidência!
Seja nos periódicos, seja na novela das oito, seja no carisma da clientela ou reconhecimento pelo nosso trabalho, ou ainda frentes as disputas nos vários níveis por "direito de apropriação" de mercado (lê-se ato médico).
Toda ação tem uma reação e estamos conseguindo agir e reagir, andando devagar, mas adiante!
Abraço ao amigo e até a próxima.
Find and pick some good points from you and it helps me to solve a problem, thanks.
- Henry
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