Esta semana foi divulgado antecipadamente mais um estudo de efetividade de recurso tecnológico para o tratamento de disfunções neurológicas, mais especificamente, pós AVC. Um grupo de pesquisadores americanos propôs a utilização de um equipamento robótico para auxiliar a recuperação da função do membro superior de hemiplégicos crônicos no “The New England Journal of Medicine” (fator de impacto = 50,017) 1 (artigo completo, vídeo).
O estudo clínico controlado, randomizado e multicêntrico, envolveu 127 participantes com disfunções moderadas e graves do membro superior de pelo menos 6 meses. 49 pacientes receberam sessões intensivas de fisioterapia assistida por robô (intensive robot-assisted therapy), 50 receberam fisioterapia intensiva (alongamentos assistidos, atividades de estabilização escapular, exercícios para o braço e alcance funcional) e 28, cuidados usuais (cuidados médicos quando necessários e em alguns casos serviços de reabilitação). As foram realizadas 3 vezes por semana, por 1 hora em 12 semanas. Os desfechos foram avaliados cegamente, conforme as funções motoras (Fugl-Meyer, Teste de Wolf e Escala do Impacto do AVC) ao final das 12 semanas e após 36 semanas.
Após os 3 primeiros meses, os resultados alcançados nos pacientes submetidos a fisioterapia intensiva foram melhores que os submetidos a fisioterapia com o equipamento robótico, mas segundo os autores, não estatisticamente significante. Os resultados se repetiram no seguimento após 36 semanas. Ambos os grupos recuperaram-se mais do que no grupo com cuidados usuais.
Fonte: http://www.rehab.research.va.gov/jour/05/42/5/finley.html
Comentário 1: mais evidências de que cuidados fisioterapêuticos e/ou multiprofissionais devem prevalecer aos cuidados clínicos isolados, ou seja, fisioterapia é fundamental para a melhora funcional.
Comentário 2: nem sempre “tecnologia dura”, ou seja, recursos tecnológicos palpáveis, são custo-efetiva. Este estudo, aparentemente, não demonstrou vantagens da assistência com robô, mas deixou claro sua equivalência aos outros grupos, todos submetidos ao tratamento fisioterapêutico.
Cramer, em editorial a ser publicado no mesmo número da revista, destacou a possibilidade de modificação do status motor de pacientes com disfunções crônicas causadas por lesões cerebrais, o que sinalizou grandes esperanças em pesquisas futuras com intuíto de reduzir incapacidades após AVC2.
Além disso, segundo Cramer, robôs podem trabalhar de forma consistente e precisa por longos períodos sem fadiga, podem modular tempo e intensidade do treinamento de forma reprodutível, com uma reduzida necessidade de vigilância, podem mensurar o desempenho durante a terapia2. Assim, a "robotização" da fisioterapia poderia ser, aparentemente, "mais confiável" e eficiente.
Comentário 3: Numa análise de custos, os autores demonstram equivalência entre os grupos. Acredito porém, que o custo inicial para instrumentalização (aquisição do equipamento), pode impactar no custo/preço final, afetando a tomada de decisão ao se pensar na prática clínica.
Comentário 4: Há longo prazo, quem sabe o processo de reabilitação "em linha de produção" e "robotizado" possa valer o investimento, mas desfechos como satisfação do usuários devem ser mensurados como desfecho clínico também.
Por enquanto, aguardamos os efeitos desta linha de pesquisa.
1. Lo AC, Guarino PD, Richards LG, Haselkorn JK, Wittenberg GF, Federman DG, et al. Robot-assisted therapy for long-term upper-limb impairment after stroke. The New England journal of medicine. 2010 16 abril; In press.
2. Cramer SC. Brain Repair after Stroke. The New England journal of medicine. 2010 16 abril;In press.
3 comentários:
Boa noite!
O tema da monografia do meu grupo está relacionado com este tema e achei que lhe poderia pedir alguma opinião. Gostaria de saber o que poderia ser alvo de uma revisão sistemática realizada por nós dentro do tema da robótica e fisioterapia.
Estamos a entrar em pânico. :S
Obrigada!
Cumprimentos,
Inês Baptista
Será que me pode ajudar?
O tema do nosso trabalho final de curso é a Robótica na Fisioterapia e teremos que realizar uma revisão sistemática, mas não sabemos que "problema" pode ser utilizado e interessante e possível de ser utilizado na realização de uma Revisão Sistemática.
Agradecia muito se me pudesse dizer qualquer coisa.
Obrigada!
Cumprimentos,
Inês Baptista
Olá Inês Baptista:
Obrigado pela audiência e comentário. Penso que uma revisão sistemática sobre o assunto seria muito bem vinda, pois acredito que devam existir outros estudos a este respeito desde a publicação destes comentários.
Para isso, uma boa orientação com professores conhecedores e experientes com a metodologia é necessária.
Desejo boa sorte e guardo interesse por saber os resultados depois que concluíres o estudo.
Abraços e até mais, Lázaro
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